quinta-feira, 25 de março de 2010

Ponto morto


Eu nunca temi a vida urbana, muito pelo contrário: de um tempos pra cá ocupar a cabeça tem sido quase que uma terapia, já que me livra da tarefa dolorosíssima de pensar em mim mesmo.
Mas finalmente chega uma hora em que não podemos fugir do nosso compromisso perante o nosso eu. E é nessa hora que dói. Ou pelo menos deveria doer.
Para muitos a reflexão é um ato que incomoda, que trás maus sentimentos porque ao pensarmos em nós mesmos tomamos a consciência de nossos erros, de nossos pecados. Na maioria das vezes isso é tão chato, tão incômodo que essa freada em prol de uma busca intimista só acontece porque algo mais forte que nós mesmos nos impôs isso de alguma maneira. E adivinhem só?! Comigo não foi diferente. Eu briguei novamente com meu irmão, eu novamente não consegui estudar nem 10% daquilo que eu pretendia, eu novamente me frustrei e eu novamente enfiei a cabeça na almofada mais próxima e comecei a buscar uma resposta uma solução quando de repente me veio uma cachoeira de informações que estavam sempre ali, na frente do meu nariz mais eu ignoravam. E essa cachoeira de informações se resumem em três versos do Fernando Pessoa: Não sou nada/Nunca serei nada/Não posso querer ser nada. Quem conhece o poema "Tabacaria" sabe que para acabar a estrofe falta mais um versinho: "À parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo". E é exatamente isso que eu não senti. Ao ver refletido no espelho uma imagem horrorosa de mim mesmo (talvez uma das piores que eu já vi) eu apenas não senti nada. Aquilo não me fez espernear, chorar, não me fez sentir um vazio enorme dentro de mim que me desse desespero por preenchê-lo. Nada. Eu sei que eu preciso mudar, eu sei que do jeito que está não dá... mas e aí? Isso não me abala.
Essa falta de sentimentos pode ser interpretada de duas maneiras: em algum lugar dentro da minha mente eu tenho a consciência de que há uma luz tênue no fim do túnel; ou então eu apenas desisti de viver e não percebi. E Deus sabe como eu espero que a primeira hipótese seja